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DANILO PINTO LÔBO
( BRASIL - ESPÍRITO SANTO )
É natural de Vitória, Espírito Santo.
Depois de haver concluído o Bacharelado e a Licenciatura em Letras Neolatinas na UFES (1963), foi para os Estados Unidos onde fez o Mestrado (University of Washington, 1972. É professor do Departamento de Letras e Linguística da Universidade de Brasília desde 1975, onde ensina Francês e Teoria da Literatura.
Ex-bolsista da Fundação Fullbright, da Fundação Gulbenkian e do Governo Francês, este recentemente no Japão a convite da Fundação Japão, tendo realizado pesquisa sobre o haicai.
Entre suas publicações, destacam-se o Poemas e o Quadro: O Pìcturalismo na Obra de João Cabral de Melo Neto e Norvoleana. O seu “Poema Pétreo” foi premiado pelo Sindicato de Professores no Distrito Federal, em 1983. Nas horas vagas, dedica-se ao teatro e à música, tendo traduzido para o português os libretti das operetas Princess Ida e The Gondoliers, de Gilbert e Sullivan, encenadas em 19182 e 1984, respectivamente, na Sala Martins Pena do Teatro Nacional de Brasília, “A Pablo Picasso” faz parte do livro Poemas Quadripartidos, que pretende publicar brevemente.
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CONTOS E POEMAS. PRÊMIO SINPRO - DF 1985. Brasília, DF: Sindicato dos Professores no Distrito Federal SIMPRO. Brasília, DF: SINPR0 - DF/ THESAURUS, 1985. 189 p. No. 09 818
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
A PABLO PICASSO
(Três fase e um quadro)
1. E do azul anil violáceo,
no qual azulou a paleta,
pincelou o mundo azulado
dos heróis azuis da sarjeta.
Dos que em hospitais e em hospícios,
dos que sem abrigo e sem pão,
partilham, por becos e esquinas,
a sina da azul solidão:
o azul ametista aleijado,
o blau azulíneo vadio,
o roxo purpúreo lunático.
Os, enfim, cuspidos da vida,
que, por Barcelona, Picasso
pintou, na penúria e desdita.
altivos, estóicos e plácidos.
2. Mas, um dia, a rosa invisível,
de tão grande azul desgostosa,
na paleta austera e concisa,
germinou festiva e faustosa.
A rosa eclodiu, pois, em circo,
e, no picadeiro do quadro,
as estranha sagrada família
montou seu florido espetáculo:
o anão cor-de-rosa palhaço,
o ator rosicler trapezista,
o atleta rosado acrobata,
o artista rosete aramista.
Os que, saltimbancos do sonho,
intrusos nos palcos da vida,
encerram em rosa risonho
seus dramas em negro vividos.
3. No frontal perfil da donzela,
onde o olho egípcio pousou,
um prisma de planos e arestas
Picasso inventou e traçou.
Foi então que o cubo latente,
gerando no ventre de rosa,
deixou, simultaneamente,
as suas seis faces expostas.
E eis que o dominó dedilhou
o braço arlequim violão
quando o pierrô flauteou
a sombra canina no chão
e que sobre a mesa inclinada
o pincel colou a manchete
na paisagem horta cubada
do jornal recorte na tela.
Ferido, Picasso empunhou,
revolto, o pincel carabina...
4. Mas grávida, a águia alemã.
capanga da cólera franca,
pariu das malditas entranhas
a sua ninhada satânica,
que em anjo da morte desceu,
tirânico, sobre a Guernica,
a santa cidade onde ergueu
o trágico altar da chacina.
E a lâmpada olho de Deus,
em brasa, na basca morada,
a tarde de abril escondeu
num bafo de fogo e fumaça.
E o pássaro e o touro e o guerreiro
pensaram o grito dorido,
que da língua dardo da besta
saltou em plangente relincho.
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Página publicada em julho de 2025.
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